As Apostas de Morte – A Ascensão de um Mercado Iminente
A morte sempre foi um fenômeno social, mas agora é também um ativo especulativo. As "Apostas de Morte" não são um delírio futurista, nem uma piada macabra, mas a expressão lógica de uma sociedade onde tudo é precificado, inclusive a finitude humana. Se o mercado já transformou afetos em produtos, tragédias em entretenimento e indignação em algoritmo, por que a morte escaparia desse processo?
A mecânica é simples: um aplicativo, uma lista de nomes de políticos, celebridades, influenciadores. O jogo não consiste em acompanhar seus feitos, mas em apostar suas datas de falecimento. Se acertar, o lucro é seu. Se errar, a aposta cresce e atrai novos jogadores. E como toda inovação realmente disruptiva, não há como impedir. O sistema não depende de intermediários, não se submete a regulações. Blockchain, criptomoedas, contratos inteligentes, a estrutura é descentralizada, imune a interferências estatais e impermeável à ética convencional.
A rigor, não há sequer crime envolvido. Apostar na morte alheia não é ordenar uma execução, assim como especular sobre o colapso de uma empresa não é o mesmo que sabotá-la. O mercado opera com frieza: preços, probabilidades, risco e recompensa. Mas os alvos, aqueles cujas vidas se tornam fichas nesse cassino, podem não ver a questão com tamanha abstração. Celebridades que sempre se nutriram do olhar público talvez repensem sua exposição. Políticos que se esconderam na impunidade podem, enfim, experimentar um medo real. Afinal, diante de uma aposta acumulada o bastante, o que impede alguém de agilizar o processo?
Se isso parece absurdo, vale lembrar que o próprio conceito de seguro de vida já é, em sua essência, uma aposta sobre o tempo de morte. A diferença é que o jogo agora não se limita aos envolvidos diretos. O público participa. A morte torna-se espetáculo, mas não mais no sentido teatral dos rituais fúnebres, e sim no sentido especulativo do mercado financeiro.
Os entusiastas verão nisso uma forma de justiça: ditadores, corruptos, criminosos poderosos finalmente pressionados por um mecanismo impessoal, livre do compadrio jurídico e da morosidade institucional. Mas o que impede o sistema de errar o alvo? Se o critério é a atenção midiática, por que supor que os "jogadores" farão distinção entre algozes e inocentes? No instante em que a lógica do mercado se impõe, qualquer tentativa de moralização se torna irrelevante.
Vivemos em um mundo que há tempos reduziu vidas a métricas. Seguidores, curtidas, impressões, a presença social já é quantificada, avaliada, monetizada. O último passo desse processo era inevitável: se a vida virou um número, a morte se torna um índice. O mercado das apostas de morte não surgirá porque a tecnologia o tornou possível, mas porque a cultura que o tornaria aceitável já está aqui.
José Rodolfo G. H. Almeida é escritor e editor do site www.conectados.site
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The Death Bets – The Rise of an Imminent Market
Death has always been a social phenomenon, but now it is also a speculative asset. "Death Bets" are not a futuristic delirium, nor a macabre joke, but the logical expression of a society where everything is priced, including human finitude. If the market has already transformed affections into products, tragedies into entertainment and indignation into algorithms, why would death escape this process?
The mechanics are simple: an app, a list of names of politicians, celebrities, influencers. The game does not consist of following their deeds, but of betting on their death dates. If you guess right, the profit is yours. If you guess wrong, the bet grows and attracts new players. And like all truly disruptive innovation, there is no way to stop it. The system does not depend on intermediaries, it is not subject to regulations. Blockchain, cryptocurrencies, smart contracts, the structure is decentralized, immune to state interference and impervious to conventional ethics.
Strictly speaking, there is not even a crime involved. Betting on someone else's death is not the same as ordering an execution, just as speculating on the collapse of a company is not the same as sabotaging it. The market operates in a cool-headed manner: prices, probabilities, risk and reward. But the targets, those whose lives become chips in this casino, may not see the issue with such abstraction. Celebrities who have always thrived on the public eye may rethink their exposure. Politicians who have hidden in impunity may finally experience real fear. After all, when faced with a sufficiently accumulated bet, what is stopping someone from speeding up the process?
If this seems absurd, it is worth remembering that the very concept of life insurance is, in its essence, a bet on the time of death. The difference is that the game is now not limited to those directly involved. The public participates. Death becomes a spectacle, but no longer in the theatrical sense of funeral rituals, but in the speculative sense of the financial market.
Enthusiasts will see this as a form of justice: dictators, corrupt people, and powerful criminals finally pressured by an impersonal mechanism, free from legal cronyism and institutional slowness. But what prevents the system from missing its target? If the criterion is media attention, why assume that the "players" will distinguish between executioners and innocents? The moment the logic of the market takes over, any attempt at moralization becomes irrelevant.
We live in a world that has long reduced lives to metrics. Followers, likes, impressions, and social presence are already quantified, evaluated, and monetized. The last step in this process was inevitable: if life has become a number, death becomes an index. The death bet market will not emerge because technology has made it possible, but because the culture that would make it acceptable is already here
José Rodolfo G. H. Almeida is a writer and editor of the website www.conectados.site
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