Quando a Ideologia Contamina a Ciência

 


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O pragmatismo e o marxismo são dois sistemas de pensamento que, apesar de suas diferenças filosóficas e históricas, compartilham uma característica central, ambos colocam grande ênfase na transformação da realidade, em vez de uma mera descrição objetiva dela. Embora essa abordagem possa parecer prática e eficaz, ela levanta questões profundas sobre a objetividade científica e a integridade do conhecimento. Este artigo explora como o pragmatismo e o marxismo operam, oferece críticas fundamentadas a suas perspectivas sobre a objetividade e destaca os riscos associados à fusão entre teoria e prática.

O pragmatismo, desenvolvido principalmente por filósofos americanos como Charles Sanders Peirce, William James e John Dewey, sustenta que o valor de uma ideia ou teoria é medido por sua utilidade prática. Peirce por exemplo, propôs que a verdade de uma proposição é determinada por suas consequências práticas. Para os pragmatistas o conhecimento não é uma representação passiva da realidade, mas um instrumento para resolver problemas concretos. Esse foco na ação e nas consequências práticas do pensamento é o que define o pragmatismo.

Uma crítica central ao pragmatismo é sua tendência a confundir lógica com psicologia. Ao priorizar as consequências práticas de uma crença ou teoria, o pragmatismo corre o risco de misturar as causas reais que produzem pensamentos verdadeiros ou falsos com as exigências formais do pensamento lógico e coerente. Essa fusão pode resultar em uma perda de distinção entre o que é logicamente válido e o que é apenas psicologicamente convincente.

Por exemplo, a psicologia cognitiva moderna demonstra como crenças podem ser formadas não por serem verdadeiras, mas por serem adaptativas ou emocionalmente satisfatórias. Estudos em viés de confirmação mostram como as pessoas tendem a buscar informações que confirmem suas crenças pré-existentes, mesmo que essas crenças sejam logicamente falhas. Isso sugere que a utilidade prática de uma ideia (como defendido pelo pragmatismo) nem sempre está alinhada com sua validade lógica.

Essa crítica ao pragmatismo pode ser reforçada com exemplos históricos. Na década de 1950, por exemplo, a teoria comportamentalista de B.F. Skinner, que enfatizava a modificação do comportamento através de reforços, teve grande aplicação prática em áreas como educação e psicologia. E a medida que novas evidências surgiram, mostrando a complexidade do cérebro humano e a importância dos processos cognitivos internos, a abordagem comportamentalista foi revisada e criticada por sua visão excessivamente simplista da mente humana. Aqui vemos como um foco exagerado na aplicação prática pode comprometer a compreensão plena e objetiva da realidade.

O marxismo, fundamentado na obra de Karl Marx, coloca a transformação social no centro de sua teoria. Marx acreditava que a filosofia deveria mudar o mundo, não apenas interpretá-lo. Assim como o pragmatismo, o marxismo rejeita a ideia de um conhecimento puramente descritivo, promovendo uma abordagem que une teoria e ação revolucionária.

Uma crítica significativa ao marxismo é a confusão entre ideologia e sociologia. Marx sustentava que toda teoria social é uma expressão dos interesses de classe. Em sua obra "A Ideologia Alemã", ele argumenta que as ideias dominantes de qualquer época são as ideias da classe dominante. Isso leva à conclusão de que a análise objetiva da sociedade é inevitavelmente condicionada por interesses de classe.

Essa fusão cria uma tensão interna no marxismo. Marx "aspirava" a desenvolver uma ciência social objetiva que pudesse descrever a realidade de maneira imparcial e universal. Ao argumentar que todas as teorias são condicionadas por interesses de classe, ele compromete a possibilidade de uma análise verdadeiramente imparcial e coloca em questão a validade universal das teorias marxistas.

Um exemplo histórico desse dilema pode ser visto na União Soviética. Durante o regime stalinista, a ciência foi subordinada aos interesses do Partido Comunista. O caso de Trofim Lysenko, um biólogo cujas teorias eram politicamente apoiadas, apesar de carecerem de bases científicas, é emblemático. O apoio a Lysenko não se deu pela validade científica de suas teorias, mas sim porque suas ideias se alinhavam convenientemente com a ideologia dominante. As políticas de Lysenko, baseadas em suas teorias rejeitadas pela comunidade científica internacional, levaram à fome e à morte de milhões de pessoas, uma vez que o governo soviético implementou suas práticas agrícolas sem considerar evidências contrárias. A ciência foi distorcida para servir a uma ideologia, resultando em consequências trágicas.

Quando teoria e prática se confundem, a ciência perde sua capacidade de distinguir entre a verdade objetiva e as projeções ideológicas do cientista-militante. Em ciência é crucial manter uma distinção clara entre a observação e descrição da realidade, a teoria, e as ações que se baseiam nessas descrições, a prática. Quando essa distinção é perdida, a teoria pode ser manipulada para justificar ações ou preconceitos preexistentes, tornando-se menos uma descrição objetiva do mundo e mais uma ferramenta para moldá-lo conforme os interesses do teórico.

Essa crítica é particularmente relevante em debates sobre a objetividade na ciência e nas ciências sociais. Um exemplo contemporâneo é o uso do termo "fake news". Enquanto alguns podem argumentar que a rotulação de certas informações como "fake news" é necessária para combater a desinformação, outros apontam que o termo pode ser utilizado de forma arbitrária para deslegitimar fatos e narrativas que desafiam interesses estabelecidos. A prática de rotular certas informações como "fake news" pode, em si, ser vista como uma fusão problemática entre teoria – a definição de verdade e falsidade, e prática – a aplicação dessa definição para controlar a narrativa pública.

Tanto o pragmatismo quanto o marxismo enfrentam críticas substanciais por sua tendência a confundir teoria com prática. Essa fusão compromete a capacidade de ambos os sistemas de produzir uma ciência objetiva e universalmente válida. Quando o conhecimento se torna uma ferramenta para a ação, em vez de um reflexo imparcial da realidade, torna-se difícil distinguir entre a verdade objetiva e as projeções subjetivas do teórico. 
Isso não só compromete a credibilidade da teoria, mas também sua utilidade prática.
Esse papel dual cria um conflito de interesses, suas teorias são influenciadas por seus desejos e objetivos práticos, o que compromete a imparcialidade e a objetividade científica.

Para preservar a integridade e a credibilidade científica, é essencial manter uma separação rigorosa entre teoria e prática. A história e a filosofia da ciência nos mostram que, quando essa separação é negligenciada, as consequências são severas. Como sociedade devemos refletir sobre as implicações dessa crítica e considerar formas de garantir que a ciência, especialmente a ciência social, possa cumprir sua promessa de oferecer uma compreensão objetiva e desinteressada do mundo em que vivemos.


Análise do Artigo:


Identificação das Premissas

Premissa 1: O pragmatismo coloca ênfase na transformação da realidade através da utilidade prática das ideias.

Premissa 2: O marxismo coloca a transformação social no centro de sua teoria, unindo teoria e prática revolucionária.

Premissa 3: Ambos os sistemas, pragmatismo e marxismo, confundem teoria com prática, comprometendo a objetividade do conhecimento.

Premissa 4: O pragmatismo tende a confundir lógica com psicologia ao priorizar as consequências práticas de uma crença ou teoria.

Premissa 5: O marxismo confunde ideologia com sociologia ao sustentar que toda teoria social é uma expressão dos interesses de classe.

Premissa 6: A fusão entre teoria e prática compromete a capacidade de produzir uma ciência objetiva e universalmente válida.

Premissa 7: Para preservar a integridade científica, é essencial manter uma separação rigorosa entre teoria e prática.


Estrutura Lógica do Argumento

Tese Principal: Tanto o pragmatismo quanto o marxismo comprometem a objetividade científica ao fundirem teoria e prática, o que resulta na perda da capacidade de distinguir entre a verdade objetiva e as projeções ideológicas.


Desenvolvimento do Argumento: 

Parágrafo 2 a 4: O pragmatismo é descrito como um sistema que valoriza a utilidade prática das ideias, mas é criticado por confundir lógica com psicologia.

Parágrafo 5:  Exemplos históricos, como a teoria comportamentalista de B.F. Skinner, são usados para ilustrar os riscos de focar na aplicação prática sem considerar uma compreensão mais plena da realidade.

Parágrafo 6 a 8: O marxismo é descrito como um sistema que une teoria e prática revolucionária, mas é criticado por confundir ideologia com sociologia.

Parágrafo 9: Exemplos históricos, como o caso de Trofim Lysenko na União Soviética, são usados para ilustrar como a ciência pode ser distorcida para servir a uma ideologia.

Conclusão: A fusão entre teoria e prática compromete a ciência, e é necessário manter uma separação rigorosa entre as duas para preservar a integridade e a credibilidade científica.


Verificação da Validade dos Argumentos

Lógica Dedutiva: O artigo utiliza uma lógica dedutiva ao partir de premissas gerais sobre o pragmatismo e o marxismo para chegar a uma conclusão sobre os efeitos da fusão entre teoria e prática na ciência. 


Conclusão

O artigo apresenta uma estrutura lógica coerente e usa premissas que sustentam a tese central de que tanto o pragmatismo quanto o marxismo comprometem a objetividade científica ao confundirem teoria com prática. 


José Rodolfo G. H. Almeida é escritor e editor do site www.conectados.site

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When Ideology Contaminates Science


Pragmatism and Marxism are two systems of thought that, despite their philosophical and historical differences, share a central characteristic: they both place great emphasis on transforming reality rather than merely describing it objectively. While this approach may seem practical and effective, it raises profound questions about scientific objectivity and the integrity of knowledge. This article explores how pragmatism and Marxism operate, offers informed critiques of their views on objectivity, and highlights the risks associated with conflation of theory and practice.
Pragmatism, developed primarily by American philosophers such as Charles Sanders Peirce, William James, and John Dewey, holds that the value of an idea or theory is measured by its practical usefulness. Peirce, for example, proposed that the truth of a proposition is determined by its practical consequences. For pragmatists, knowledge is not a passive representation of reality, but a tool for solving concrete problems. This focus on action and the practical consequences of thought is what defines pragmatism.
A central criticism of pragmatism is its tendency to confuse logic with psychology. By prioritizing the practical consequences of a belief or theory, pragmatism risks conflating the real causes that produce true or false thoughts with the formal requirements of logical and coherent thought. This conflation can result in a loss of distinction between what is logically valid and what is merely psychologically convincing.
For example, modern cognitive psychology demonstrates how beliefs can be formed not because they are true, but because they are adaptive or emotionally satisfying. Studies of confirmation bias show how people tend to seek out information that confirms their preexisting beliefs, even if those beliefs are logically flawed. This suggests that the practical usefulness of an idea (as advocated by pragmatism) is not always aligned with its logical validity.
This criticism of pragmatism can be reinforced with historical examples. In the 1950s, for example, B.F. Skinner’s behaviorist theory, which emphasized behavior modification through reinforcement, found wide practical application in fields such as education and psychology. And as new evidence emerged showing the complexity of the human brain and the importance of internal cognitive processes, the behaviorist approach was revised and criticized for its overly simplistic view of the human mind. Here we see how an exaggerated focus on practical application can compromise a full and objective understanding of reality.
Marxism, founded on the work of Karl Marx, places social transformation at the center of its theory. Marx believed that philosophy should change the world, not just interpret it. Like pragmatism, Marxism rejects the idea of purely descriptive knowledge, promoting an approach that combines theory and revolutionary action.
A significant criticism of Marxism is the confusion between ideology and sociology. Marx maintained that all social theory is an expression of class interests. In his work "The German Ideology," he argues that the dominant ideas of any given era are the ideas of the ruling class. This leads to the conclusion that the objective analysis of society is inevitably conditioned by class interests.
This conflation creates an internal tension within Marxism. Marx "aspired" to develop an objective social science that could describe reality in an impartial and universal way. By arguing that all theories are conditioned by class interests, he undermines the possibility of a truly impartial analysis and calls into question the universal validity of Marxist theories.
A historical example of this dilemma can be seen in the Soviet Union. During the Stalinist regime, science was subordinated to the interests of the Communist Party. The case of Trofim Lysenko, a biologist whose theories were politically supported despite lacking scientific basis, is emblematic. Lysenko's support was not due to the scientific validity of his theories, but rather because his ideas conveniently aligned with the dominant ideology. Lysenko's policies, based on theories rejected by the international scientific community, led to the famine and death of millions of people, as the Soviet government implemented its agricultural practices without considering contrary evidence. Science was distorted to serve an ideology, resulting in tragic consequences. When theory and practice become confused, science loses its ability to distinguish between objective truth and the ideological projections of the scientist-activist.
In science, it is crucial to maintain a clear distinction between the observation and description of reality, theory, and the actions that are based on these descriptions, practice. When this distinction is lost, theory can be manipulated to justify pre-existing actions or biases, becoming less an objective description of the world and more a tool to shape it in the interests of the theorist. This critique is particularly relevant in debates about objectivity in science and the social sciences. A contemporary example is the use of the term “fake news.” While some may argue that labeling certain information as “fake news” is necessary to combat misinformation, others point out that the term can be used arbitrarily to delegitimize facts and narratives that challenge established interests. The practice of labeling certain information as “fake news” can itself be seen as a problematic conflation of theory—the definition of truth and falsehood—and practice—the application of that definition to control the public narrative. Both pragmatism and Marxism face substantial criticism for their tendency to conflate theory with practice. This conflation undermines the ability of both systems to produce an objective and universally valid science. When knowledge becomes a tool for action rather than an impartial reflection of reality, it becomes difficult to distinguish between objective truth and the subjective projections of the theorist. This not only compromises the credibility of the theory, but also its practical usefulness. This dual role creates a conflict of interests, as their theories are influenced by their practical desires and goals, which compromises scientific impartiality and objectivity. To preserve scientific integrity and credibility, it is essential to maintain a rigorous separation between theory and practice. The history and philosophy of science show us that when this separation is neglected, the consequences are severe. As a society, we must reflect on the implications of this critique and consider ways to ensure that science, especially social science, can fulfill its promise of providing an objective and disinterested understanding of the world in which we live. 

Analysis of the Article:

Identification of Premises
Premise 1: Pragmatism emphasizes the transformation of reality through the practical utility of ideas.
Premise 2: Marxism places social transformation at the center of its theory, uniting theory and revolutionary practice.
Premise 3: Both systems, pragmatism and Marxism, confuse theory with practice, compromising the objectivity of knowledge.
Premise 4: Pragmatism tends to confuse logic with psychology by prioritizing the practical consequences of a belief or theory.
Premise 5: Marxism confuses ideology with sociology by maintaining that all social theory is an expression of class interests.
Premise 6: The fusion of theory and practice compromises the ability to produce an objective and universally valid science.
Premise 7: To preserve scientific integrity, it is essential to maintain a rigorous separation between theory and practice.

Logical Structure of the Argument
Main Thesis: Both pragmatism and Marxism compromise scientific objectivity by conflating theory and practice, resulting in the loss of the ability to distinguish between objective truth and ideological projections.

Development of the Argument:
Paragraphs 2–4: Pragmatism is described as a system that values ​​the practical utility of ideas, but is criticized for confusing logic with psychology.
Paragraph 5: Historical examples, such as B.F. Skinner’s behaviorist theory, are used to illustrate the risks of focusing on practical application without considering a fuller understanding of reality.
Paragraphs 6–8: Marxism is described as a system that unites revolutionary theory and practice, but is criticized for confusing ideology with sociology.
Paragraph 9: Historical examples, such as the case of Trofim Lysenko in the Soviet Union, are used to illustrate how science can be distorted to serve an ideology.
Conclusion: The fusion of theory and practice compromises science, and it is necessary to maintain a strict separation between the two to preserve scientific integrity and credibility.

Validity Check of Arguments
Deductive Logic: The article uses deductive logic by starting from general premises about pragmatism and Marxism to reach a conclusion about the effects of the fusion of theory and practice in science.

Conclusion
The article presents a coherent logical structure and uses premises that support the central thesis that both pragmatism and Marxism compromise scientific objectivity by confusing theory with practice.


José Rodolfo G. H. Almeida is a writer and editor of the website www.conectados.site

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