O Novo Moralismo Intelectual

 

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Em um mundo cada vez mais polarizado, onde ideologias rivalizam pelo controle da narrativa moral, a percepção dos atos de militantes e revolucionários adquire novas dimensões. O confronto com evidências de brutalidade e desumanidade frequentemente leva esses indivíduos a justificarem seus atos por meio de uma lógica que desafia os padrões morais tradicionais. 

A ideologia revolucionária oferece uma justificativa que permite a reinterpretação da violência como um sacrifício necessário para um bem maior, desafiando a moralidade convencional e criando uma nova ordem social onde os fins justificam os meios. Historicamente vemos essa dinâmica em regimes como o da Revolução Francesa, onde o Terror Jacobino foi justificado como uma necessidade para proteger os ideais revolucionários. Robespierre, um dos principais líderes da Revolução, via o uso da guilhotina como um meio legítimo para purgar a sociedade dos inimigos da revolução, acreditando que o terror era o caminho para a virtude. 

Da mesma forma, regimes totalitários do século XX, como o stalinismo na União Soviética e o maoismo na China, utilizaram a brutalidade em massa, justificando esses atos como necessários para a criação de uma utopia comunista. Em ambos os casos, a violência não era vista como um desvio moral, mas como um passo heroico em direção a um futuro idealizado.

Esse tipo de justificação não se restringe ao passado. No mundo contemporâneo, muitos movimentos progressistas reinterpretam certos atos de violência ou ilegalidade sob o prisma da justiça social. A brutalidade nesse contexto, é reinterpretada como uma etapa dolorosa, mas essencial para a construção de uma nova ordem. Esse enquadramento ideológico permite aos militantes redefinir suas ações, não como algo a ser repudiado, mas como passos necessários para um bem maior.


Essa perspectiva ideológica também contribui para a emergência de uma "antimoral" nos círculos intelectuais, onde valores tradicionais são invertidos. Práticas e comportamentos anteriormente considerados imorais ou questionáveis são agora defendidos com fervor, enquanto as críticas a esses comportamentos são severamente condenadas. Isso se reflete em diversas áreas da sociedade, como no debate sobre o consumo de drogas.
Criticar o consumo de drogas, por exemplo, é visto como uma forma de moralismo antiquado. A defesa do uso recreativo de substâncias é apresentada como uma luta contra a criminalização e a repressão, minimizando os impactos negativos que o uso de drogas pode ter tanto para o indivíduo quanto para a sociedade. 

A crítica é rotulada como moralmente indefensável, associando-a automaticamente a uma postura conservadora e repressiva, ignorando discussões sobre os problemas de saúde pública e segurança associados ao consumo de drogas.
Da mesma forma, a libertinagem sexual é celebrada como uma expressão de liberdade pessoal e emancipação do corpo. Porém, qualquer menção aos possíveis riscos e consequências, como doenças sexualmente transmissíveis ou impactos emocionais duradouros, é rapidamente rejeitada como moralismo ou puritanismo. 

Esse novo moralismo, que se apresenta como uma forma de libertação, acaba por não tolerar a diversidade de opiniões, criando um ambiente onde apenas uma visão específica é aceita e todas as outras são condenadas.
Outro exemplo é a defesa de certas formas de criminalidade, como furtos ou vandalismo, justificadas sob a ótica da justiça social e redistribuição de riqueza. A crítica a essas práticas é frequentemente vista como uma defesa do status quo e uma falta de empatia com os marginalizados. Essa abordagem transforma atos que tradicionalmente seriam vistos como violações da lei e da ordem em manifestações de resistência e luta contra a opressão.

Essa "antimoral" moderna, ao redefinir e justificar esses comportamentos, resulta em uma sociedade onde o único crime absoluto que resta é a oposição à ideologia dominante. A adesão incondicional a essa ideologia se torna o critério pelo qual os atos são julgados. Crimes e infrações são relativizados com base na afiliação e na pureza ideológica de quem os comete. Se um ato é perpetrado em nome de uma causa considerada justa, ele é frequentemente desculpado ou até mesmo glorificado. 

Em contraste, qualquer ação que possa ser interpretada como oposição à ideologia dominante é rapidamente condenada, independentemente das circunstâncias ou intenções por trás dela.
Esse cenário leva a uma aplicação seletiva da justiça, onde a lealdade ideológica se sobrepõe ao princípio universal da justiça. O resultado é uma sociedade polarizada, onde a busca pela verdade e pela justiça é sufocada pela rigidez de um novo moralismo. 

A capacidade de realizar um debate honesto e aberto sobre questões morais e legais é perdida, substituída por uma atmosfera de intolerância e repressão à dissidência.
Ao observar a evolução dessa "antimoral", é fundamental questionarmos para onde essa inversão de valores está nos levando.


José Rodolfo G. H. Almeida é escritor e editor do site www.conectados.site


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The New Intellectual Moralism


In an increasingly polarized world where ideologies compete for control of the moral narrative, the perception of the actions of militants and revolutionaries takes on new dimensions. Confrontation with evidence of brutality and inhumanity often leads these individuals to justify their actions through a logic that defies traditional moral standards. Revolutionary ideology offers a justification that allows violence to be reinterpreted as a necessary sacrifice for a greater good, challenging conventional morality and creating a new social order where the ends justify the means. Historically, we see this dynamic in regimes such as the French Revolution, where the Jacobin Terror was justified as a necessity to protect revolutionary ideals. Robespierre, one of the Revolution’s key leaders, saw the use of the guillotine as a legitimate means to purge society of the revolution’s enemies, believing that terror was the path to virtue. Similarly, 20th-century totalitarian regimes such as Stalinism in the Soviet Union and Maoism in China used mass brutality, justifying these acts as necessary to create a communist utopia. In both cases, violence was not seen as a moral deviation, but as a heroic step towards an idealized future. This type of justification is not limited to the past. In the contemporary world, many progressive movements reinterpret certain acts of violence or illegality through the prism of social justice. Brutality, in this context, is reinterpreted as a painful but essential step towards building a new order. This ideological framing allows activists to redefine their actions not as something to be repudiated, but as necessary steps towards a greater good. This ideological perspective also contributes to the emergence of an “anti-morality” in intellectual circles, where traditional values are inverted. Practices and behaviors previously considered immoral or questionable are now fervently defended, while criticism of such behavior is severely condemned. This is reflected in several areas of society, such as in the debate on drug use.
Criticizing drug use, for example, is seen as a form of old-fashioned moralism. Defending the recreational use of substances is presented as a fight against criminalization and repression, minimizing the negative impacts that drug use can have on both the individual and society. Criticism is labeled as morally indefensible, automatically associating it with a conservative and repressive stance, ignoring discussions about the public health and safety problems associated with drug use.
Similarly, sexual licentiousness is celebrated as an expression of personal freedom and emancipation of the body. However, any mention of possible risks and consequences, such as sexually transmitted diseases or lasting emotional impacts, is quickly rejected as moralism or puritanism. This new moralism, which presents itself as a form of liberation, ends up not tolerating diversity of opinions, creating an environment where only a specific view is accepted and all others are condemned.
Another example is the defense of certain forms of criminality, such as theft or vandalism, justified under the perspective of social justice and wealth redistribution. Criticism of these practices is often seen as a defense of the status quo and a lack of empathy for the marginalized. This approach transforms acts that would traditionally be seen as violations of law and order into manifestations of resistance and struggle against oppression.
This modern "anti-morality", by redefining and justifying these behaviors, results in a society where the only absolute crime left is opposition to the dominant ideology. Unconditional adherence to this ideology becomes the criterion by which acts are judged. Crimes and infractions are relativized based on the affiliation and ideological purity of those who commit them. If an act is perpetrated in the name of a cause considered just, it is often excused or even glorified. In contrast, any action that can be interpreted as opposition to the dominant ideology is quickly condemned, regardless of the circumstances or intentions behind it. This scenario leads to a selective application of justice, where ideological loyalty takes precedence over the universal principle of justice. The result is a polarized society, where the pursuit of truth and justice is stifled by the rigidity of a new moralism. The ability to hold honest and open debate on moral and legal issues is lost, replaced by an atmosphere of intolerance and repression of dissent.
When observing the evolution of this "anti-morality", it is essential that we question where this inversion of values ​​is taking us.


José Rodolfo G. H. Almeida is a writer and editor of the website www.conectados.site


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