A Necessidade de uma Hierarquia

 

Toda ação humana é, antes de tudo, uma escolha, e toda escolha se fundamenta numa hierarquia de valores. Negar isso é tão absurdo quanto um homem que, ao subir uma escada, se convence de que todos os degraus são do mesmo nível. O sujeito que proclama a igualdade absoluta entre os valores já fez sua escolha: ele elevou essa suposta igualdade ao patamar supremo, sacrificando no altar do relativismo a distinção elementar entre o superior e o inferior.

A hierarquia dos valores não é uma convenção social, mas uma necessidade lógica. Se um homem considera a vida superior ao conforto, ele age em conformidade com essa prioridade; se coloca o prazer acima da moralidade, suas ações refletirão essa escolha. Mas o inverso também é verdadeiro: quem nega qualquer hierarquia de valores logo se depara com um abismo de contradições. Um igualitarista radical deveria, em coerência com sua crença, tratar a honestidade e a mentira, a coragem e a covardia, a virtude e o vício como equivalentes. Mas ele não faz isso. Ele sempre opera dentro de uma hierarquia, ainda que seja uma invertida, pervertida ou imposta por terceiros.

E é aqui que reside o verdadeiro golpe do pensamento moderno: a farsa não está na negação da hierarquia dos valores, algo que até um idiota percebe ser impossível, mas na substituição sub-reptícia de uma hierarquia natural por outra artificial, ditada por pressões ideológicas, propaganda massiva e manipulação cultural. O homem ocidental, que por séculos construiu sua civilização sobre uma estrutura de valores ordenada, onde a verdade supera a mentira, a justiça sobrepuja a arbitrariedade e a coragem prevalece sobre a pusilanimidade, agora se vê imerso em um mundo onde essa ordem foi deliberadamente corrompida.

Essa inversão de valores não se deu ao acaso. Não foi fruto do “progresso” nem de uma evolução natural da sociedade, mas de um projeto ativo de subversão. Quem dita os valores de uma época governa os rumos da história. E a grande tragédia do Ocidente contemporâneo é que, enquanto as massas acreditam viver em um regime de neutralidade axiológica, na prática estão apenas adotando uma nova hierarquia, mais grotesca e destrutiva do que qualquer tirania do passado. O vício se torna virtude, a mediocridade é celebrada como genialidade, e a degradação é imposta como um imperativo moral.

Mas há algo pior do que a inversão dos valores: o idiotia de quem acredita que está acima deles. O sujeito que se proclama “neutro” diante da moralidade, que acredita poder escapar das implicações de qualquer ordem de valores, nada mais é do que uma marionete nas mãos daqueles que impõem sua própria hierarquia pelo controle dos meios de comunicação, do sistema educacional e da cultura de massas. A escolha nunca foi entre “hierarquia ou igualdade”, mas entre uma hierarquia ancorada na realidade e uma hierarquia imposta por tiranetes e engenheiros sociais.

A única questão que resta é se o homem moderno terá a coragem de reconhecer essa verdade ou se continuará balbuciando as palavras de ordem de sua própria servidão, convencido de que são expressão de sua mais pura liberdade.

José Rodolfo G. H. Almeida é escritor e editor do site www.conectados.site

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The Need for a Hierarchy

Every human action is, first and foremost, a choice, and every choice is based on a hierarchy of values. To deny this is as absurd as a man who, when climbing a ladder, convinces himself that all the steps are on the same level. The person who proclaims absolute equality between values ​​has already made his choice: he has elevated this supposed equality to the highest level, sacrificing on the altar of relativism the elementary distinction between the superior and the inferior.

The hierarchy of values ​​is not a social convention, but a logical necessity. If a man considers life to be superior to comfort, he acts in accordance with this priority; if he places pleasure above morality, his actions will reflect this choice. But the reverse is also true: whoever denies any hierarchy of values ​​soon finds himself faced with an abyss of contradictions. A radical egalitarian should, in accordance with his belief, treat honesty and lying, courage and cowardice, virtue and vice as equivalent. But he does not do so. It always operates within a hierarchy, even if it is an inverted, perverted one or one imposed by third parties.

And this is where the real coup of modern thought lies: the farce does not lie in the denial of the hierarchy of values, something that even an idiot realizes is impossible, but in the surreptitious replacement of a natural hierarchy by an artificial one, dictated by ideological pressures, massive propaganda and cultural manipulation. Western man, who for centuries built his civilization on an ordered structure of values, where truth overcomes lies, justice overcomes arbitrariness and courage prevails over cowardice, now finds himself immersed in a world where this order has been deliberately corrupted.

This inversion of values ​​did not happen by chance. It was not the result of “progress” or a natural evolution of society, but of an active project of subversion. Whoever dictates the values ​​of an era governs the course of history. And the great tragedy of the contemporary West is that, while the masses believe they live in a regime of axiological neutrality, in practice they are merely adopting a new hierarchy, more grotesque and destructive than any tyranny of the past. Vice becomes virtue, mediocrity is celebrated as genius, and degradation is imposed as a moral imperative.

But there is something worse than the inversion of values: the idiocy of those who believe they are above them. The individual who proclaims himself “neutral” in the face of morality, who believes he can escape the implications of any order of values, is nothing more than a puppet in the hands of those who impose their own hierarchy through control of the media, the educational system, and mass culture. The choice was never between “hierarchy or equality,” but between a hierarchy anchored in reality and a hierarchy imposed by tyrants and social engineers.

The only question that remains is whether modern man will have the courage to recognize this truth or whether he will continue to babble the slogans of his own servitude, convinced that they are an expression of his purest freedom.

José Rodolfo G. H. Almeida is a writer and editor of the website www.conectados.site

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