Fronteiras Morais – O Enfrentamento do Intolerável
O relativismo moral, ao decretar a inexistência de verdades absolutas, não apenas implode a própria possibilidade do juízo ético, mas instaura um paradoxo: a ditadura da tolerância irrestrita. Como um déspota que se disfarça de libertador, ele exige a aceitação indiscriminada de todas as práticas, inclusive as que corrompem os alicerces da civilização. A consequência lógica dessa postura é a paralisia moral: se tudo é válido, nada pode ser condenado; se nada pode ser condenado, a própria ideia de justiça se esfarela.
A ingenuidade dos que tomam o relativismo como sinônimo de liberdade é desconcertante. Como se a sociedade pudesse prosperar sem um mínimo de consenso sobre o que deve ser rejeitado. E, no entanto, basta que alguém ouse traçar uma linha divisória, separando o aceitável do intolerável, para que imediatamente seja rotulado de opressor, reacionário ou qualquer outra alcunha depreciativa do jargão progressista. A ironia disso não poderia ser mais grotesca: os mesmos que pregam a diversidade absoluta são os primeiros a reprimir qualquer tentativa de restabelecer um critério objetivo.
O relativismo moral, longe de ser uma sofisticada abstração filosófica, é um artifício tosco de engenharia social. Sua função não é promover o pensamento crítico, mas dissolver a própria noção de verdade, de modo que o falso possa reivindicar o mesmo estatuto do verdadeiro sem qualquer constrangimento lógico. Nessa lógica perversa, a mentira não é mais um desvio moral, mas apenas uma "narrativa alternativa"; a traição não é uma quebra de confiança, mas um "reposicionamento estratégico"; e a promessa se torna uma probabilidade remota, desobrigada de cumprimento.
Eis o resultado inevitável: quando todo princípio se torna flexível, nenhum resiste às pressões do oportunismo. Se tudo é questão de perspectiva, nada impede que a barbárie se apresente sob a máscara do progresso, que o crime se autojustifique como uma expressão de liberdade e que o mal exija reverência em nome da inclusão.
A recusa em estabelecer limites não é um gesto de bondade, mas de pusilanimidade. O enfrentamento do intolerável não é um capricho arbitrário, mas uma necessidade civilizacional. Pois a verdadeira liberdade não consiste na aceitação indiscriminada de qualquer coisa, mas na coragem de dizer "não" ao que destrói a dignidade humana.
José Rodolfo G. H. Almeida é escritor e editor do site www.conectados.site
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Moral Frontiers – Confronting the Intolerable
Moral relativism, by declaring the non-existence of absolute truths, not only implodes the very possibility of ethical judgment, but also establishes a paradox: the dictatorship of unrestricted tolerance. Like a despot masquerading as a liberator, it demands the indiscriminate acceptance of all practices, including those that corrupt the foundations of civilization. The logical consequence of this stance is moral paralysis: if everything is valid, nothing can be condemned; if nothing can be condemned, the very idea of justice crumbles.
The naivety of those who take relativism as a synonym for freedom is disconcerting. As if society could prosper without a minimum of consensus on what should be rejected. And yet, all it takes is for someone to dare to draw a dividing line, separating the acceptable from the intolerable, for them to be immediately labeled an oppressor, a reactionary, or any other derogatory term used in progressive jargon. The irony of this could not be more grotesque: the same people who preach absolute diversity are the first to repress any attempt to reestablish an objective criterion.
Moral relativism, far from being a sophisticated philosophical abstraction, is a crude artifice of social engineering. Its function is not to promote critical thinking, but to dissolve the very notion of truth, so that the false can claim the same status as the true without any logical constraint. In this perverse logic, a lie is no longer a moral deviation, but merely an “alternative narrative”; betrayal is not a breach of trust, but a “strategic repositioning”; and a promise becomes a remote probability, exempt from fulfillment.
This, then, is the inevitable result: when every principle becomes flexible, none can resist the pressures of opportunism. If everything is a matter of perspective, nothing prevents barbarity from presenting itself under the guise of progress, crime from justifying itself as an expression of freedom, and evil from demanding reverence in the name of inclusion.
Refusing to set limits is not a gesture of kindness, but of cowardice. Confronting the intolerable is not an arbitrary whim, but a civilizational necessity. For true freedom does not consist in the indiscriminate acceptance of anything, but in the courage to say "no" to that which destroys human dignity.
José Rodolfo G. H. Almeida is a writer and editor of the website www.conectados.site
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