Honestidade seletiva – Lições para iniciantes


conectados.site



A necessidade de parecer virtuoso, e não de ser, tornou-se o motor de todas as grandes imposturas do nosso tempo. Qualquer pateta que adere a uma "causa" se julga elevado a uma estirpe de homens superiores. Não precisa agir corretamente, nem ter coragem moral, nem se comprometer com a verdade, basta repetir as ideias ideológicas do momento, e pronto, sente-se parte da nova aristocracia dos justos.

Esse fenômeno não é novo. O ser humano sempre teve uma inclinação natural para buscar pertencimento e justificar sua existência por meio de ideais. Mas o que distingue a nobreza verdadeira da farsa dos falsos nobres é um detalhe incômodo para os que vivem de narrativas: a verdade.

Porque a verdadeira nobreza não se conquista com aforismos, mas com caráter. Não se mede pelo alinhamento com um grupo, mas pela coerência entre o que se diz e o que se faz. A mentira virou ferramenta política, e quem insiste em ser honesto se torna uma ameaça. E como qualquer ameaça, precisa ser ridicularizado, silenciado ou eliminado.

Eis então a grande invenção moderna: mentir em favor da verdade. Essa aberração lógica é a pedra angular da política contemporânea, e sua aplicação prática segue um roteiro simples, mas devastador. Lenin teria orgulho.

A engenharia da mentira política opera com regras específicas. As mais notórias, importadas diretamente dos manuais revolucionários, são duas:

"Fomentar a corrupção e denunciá-la." Cria-se um problema, estimula-se o caos e, quando o colapso é iminente, apresentam-se os culpados de ocasião, sempre os inimigos políticos. Assim, o incendiário veste o uniforme de bombeiro e posa de salvador da pátria.

"Acuse-os do que você faz, xingue-os do que você é." O canalha se adianta ao oponente e grita primeiro. Acusa-o de seus próprios crimes, imputa-lhe intenções sórdidas e, enquanto este tenta se defender, já foi condenado pela opinião pública. O lobo se veste de cordeiro e, apontando para o rebanho, grita: "Ali está o predador!"

Mas há um método ainda mais sofisticado: a guerra assimétrica. 

Aqui, não basta apenas mentir e difamar. A genialidade da guerra assimétrica está em transformar o crime em virtude. Se um lado comete um erro, é imperdoável; se o outro comete atrocidades, é "necessário para um bem maior". Quem ousa criticar? Fascista! Extremista! Retrógrado!

Molda-se a narrativa. Quem controla a informação, controla a percepção da realidade. O que ontem era condenável, hoje é exaltado, desde que sirva à "causa certa".

Cria-se uma farsa de superioridade moral. Pouco importa o que fazem, censura, perseguição, corrupção, desde que tenham uma aparência de nobreza. Os fins justificam os meios.

Neutraliza-se a oposição com acusações infames. Quem ousa discordar não será apenas refutado, mas excomungado da sociedade civilizada. O medo da desonra garante a conformidade.

E assim, a mentira vira virtude, a corrupção vira estratégia e a nobreza real, aquela baseada em princípios, coragem e verdade, torna-se motivo de escárnio. A nova aristocracia não é composta pelos homens de honra, mas pelos canalhas bem articulados, aplaudidos por um rebanho que se julga esclarecido.

Mas a verdade é implacável. Pode ser calada por um tempo, pode ser distorcida, pode ser ridicularizada, mas jamais será destruída. No fim, aqueles que trocaram a honra pela conveniência descobrirão que, sem verdade, não há nobreza alguma, só o vazio de uma farsa que não se sustenta.


José Rodolfo G. H. Almeida é escritor e editor do site www.conectados.site

Apoie o Site

Se encontrou valor neste artigo, considere apoiar o site. Optamos por não exibir anúncios para preservar sua experiência de leitura. Agradecemos sinceramente por fazer parte do suporte independente que torna isso possível!

Entre em Contato

Para dúvidas, sugestões ou parcerias, envie um e-mail para contato@conectados.site


__________________________________


Selective Honesty – Lessons for Beginners


The need to appear virtuous, rather than to be so, has become the driving force behind all the great impostures of our time. Any fool who joins a "cause" believes himself elevated to a lineage of superior men. He does not need to act correctly, nor have moral courage, nor commit to the truth; he just needs to repeat the ideological ideas of the moment, and that's it, he feels part of the new aristocracy of the just.

This phenomenon is not new. Human beings have always had a natural inclination to seek belonging and justify their existence through ideals. But what distinguishes true nobility from the farce of false nobles is an uncomfortable detail for those who live by narratives: the truth.

Because true nobility is not achieved with aphorisms, but with character. It is not measured by alignment with a group, but by the coherence between what is said and what is done. Lying has become a political tool, and anyone who insists on being honest becomes a threat. And like any threat, it needs to be ridiculed, silenced or eliminated.

Here then is the great modern invention: lying in favor of the truth. This logical aberration is the cornerstone of contemporary politics, and its practical application follows a simple but devastating script. Lenin would be proud.

The engineering of political lies operates according to specific rules. The most notorious, imported directly from revolutionary manuals, are two:

"Foster corruption and denounce it." A problem is created, chaos is encouraged, and when collapse is imminent, the culprits of the moment appear, always political enemies. Thus, the arsonist puts on the uniform of a firefighter and poses as the savior of the nation.

"Accuse them of what you do, call them names for what you are." The scoundrel gets ahead of his opponent and shouts first. He accuses him of his own crimes, imputes sordid intentions to him, and while the opponent tries to defend himself, he has already been condemned by public opinion. The wolf dresses up as a sheep and, pointing to the flock, shouts: "There is the predator!"

But there is an even more sophisticated method: asymmetric warfare. Here, it is not enough to simply lie and defame. The genius of asymmetric warfare lies in transforming crime into virtue. If one side makes a mistake, it is unforgivable; if the other commits atrocities, it is "necessary for a greater good". Who dares to criticize? Fascist! Extremist! Retrograde!

The narrative is shaped. Whoever controls the information controls the perception of reality. What was reprehensible yesterday is exalted today, as long as it serves the "right cause".

A farce of moral superiority is created. It does not matter what they do, censorship, persecution, corruption, as long as they have an appearance of nobility. The ends justify the means.

Opposition is neutralized with infamous accusations. Whoever dares to disagree will not only be refuted, but excommunicated from civilized society. Fear of dishonor ensures conformity.

And so, lies become virtues, corruption becomes strategy, and real nobility, based on principles, courage, and truth, becomes a source of mockery. The new aristocracy is not made up of men of honor, but of well-spoken scoundrels, applauded by a flock that considers itself enlightened.

But the truth is implacable. It can be silenced for a time, it can be distorted, it can be ridiculed, but it will never be destroyed. In the end, those who have exchanged honor for convenience will discover that without truth, there is no nobility at all, only the emptiness of a farce that cannot be sustained.


José Rodolfo G. H. Almeida is a writer and editor of the website www.conectados.site

Support the website

If you found value in this article, please consider supporting the site. We have chosen not to display ads to preserve your reading experience. We sincerely thank you for being part of the independent support that makes this possible!

Get in Touch

For questions, suggestions or partnerships, send an email to contato@conectados.site



Comentários

Postar um comentário

Ficamos felizes em saber que nosso artigo despertou seu interesse. Continue acompanhando o nosso blog para mais conteúdos relevantes!