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A Política dos Canalhas

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A política, desligada da virtude, não é política, é encenação. Uma encenação farsesca, onde cada personagem acredita estar desempenhando o papel de estadista, mas não passa de bufão em palco carcomido.  Um povo pode exibir constituições vistosas, economistas laureados e generais com a farda engomada. Pode multiplicar leis como coelhos, construir tribunais monumentais e proclamar solenemente direitos humanos em conferências internacionais. Nada disso o salva, se a alma coletiva se divorcia da virtude. Nesse caso, as instituições se tornam apenas adereços funerários, ornamentos num cadáver ainda quente. É o que Tácito já percebia em Roma, quanto mais leis, mais corrupção. Não porque a lei seja inútil, mas porque sem homens virtuosos a lei é apenas papel morto, sem carne, sem sangue, sem vida. E não se engane, quando o Estado multiplica leis, não multiplica direitos, mas sim obrigações. E as leis que transformam favores em “direitos adquiridos”, essa indústria populista da generosidad...

Filosofia para Homens Comuns

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  Muitos acreditam que filosofia é algo distante, reservado a bibliotecas empoeiradas e a acadêmicos de óculos grossos. Nada mais enganoso. A filosofia nasceu no pátio da vida, não no gabinete universitário. Sócrates não escreveu tratados, caminhava pela praça interrogando homens comuns. O pensamento filosófico não é um luxo da elite intelectual, mas uma exigência de sobrevivência. Pois viver sem filosofia é viver sem bússola, reduzido a reagir a estímulos, como animal domesticado. A questão é simples e devastadora, se o homem não ordena sua vida à luz da verdade, sua vida será ordenada pela mentira de outrem. E nesse ponto entra o primeiro dos nossos temas: a programação universal. Não falo de astrologia, nem de determinismo científico, mas da constatação clássica de que o cosmos tem estrutura inteligível, uma ordem que se manifesta no ritmo dos astros, no ciclo da natureza, no próprio logos que a mente humana é capaz de apreender. O universo não é um acidente; é uma escrita. Ler ...

Quando a Política se Torna Teologia Profana

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  A figura do Estado moderno não nasceu de uma progressão natural da vida em sociedade, como se fosse apenas um refinamento técnico das regras de convivência. Não, o Estado nasceu de uma decisão metafísica, de um ato de usurpação do sagrado. Ele se ergueu como substituto da transcendência, como um sucedâneo terrestre do divino. Quando Hobbes escreveu o Leviatã, não fundou apenas uma teoria política, inaugurou uma religião invertida. No altar, já não mais Deus, mas o contrato social; no lugar de sacerdotes, uma burocracia; e no trono, não o Criador, mas o funcionário público. O que é o burocrata senão o parasita coroado? Ele é o sacerdote dessa nova fé. Não pede esmolas, mas impostos; não promete a salvação eterna, mas benefícios sociais; não se apresenta em batina, mas de terno. Sua missão é sugar a vitalidade da sociedade produtiva, não para criar, mas para redistribuir migalhas de um banquete que ele mesmo jamais cozinhou. A expansão estatal não é, como dizem os economistas domes...

A República

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A palavra “República” tornou-se, em nosso tempo, um mero adereço retórico, um talismã vazio repetido por políticos, jornalistas e intelectuais de aluguel, sem que se conserve sequer uma sombra de sua substância original. Na boca deles, “República” não designa mais uma forma política fundada na responsabilidade moral e institucional dos cidadãos, mas apenas um som oco destinado a hipnotizar uma massa já embriagada por décadas de doutrinação. Numa República autêntica, a autoridade política se funda na correspondência entre responsabilidade econômica e poder decisório. Aquele que sustenta o edifício social, por meio do trabalho, dos impostos, da produção, é quem, legitimamente, adquire o direito de deliberar sobre os rumos da comunidade. A lógica é tão simples que qualquer pessoa normal a compreende sem precisar de manuais de ciência política. Pensemos num condomínio, quem paga a taxa condominial vota nas assembleias e decide reformas e prioridades. O porteiro, ainda que digno, necessário...

O Mito da Cinderela Antes da Cinderela

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Por mais que a literatura moderna, domesticada pelo entretenimento e enlatada em estúdios como Disney, insista em nos vender contos de fadas como inocentes fantasias infantis, a verdade é que toda narrativa que atravessa milênios, culturas e impérios carrega uma carga simbólica capaz de denunciar ou exaltar estruturas permanentes da alma humana. O mito de Cinderela, sob esse aspecto, não é um conto para crianças. E antes que Charles Perrault usasse a pena para lapidar o cristal de sua versão e os Irmãos Grimm mergulhassem na floresta escura do folclore germânico, a figura essencial dessa narrativa já caminhava sob o sol vertical do Egito Antigo, nas margens do Nilo, sob o nome de Rhodopis, a estrangeira, a escrava, a invisível que tocaria o trono. Sim. Cinderela é egípcia. Ou melhor, é anterior à França, à Alemanha, à própria ideia de Europa como entidade civilizatória. E o que nos diz essa ancestralidade? Que há algo nesse enredo que escapa à contingência cultural e toca o universal, ...

O Mal Mora Onde Há Vontade

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Há frases que resistem ao tempo, não pela repetição, mas apesar dela. “Conhece-te a ti mesmo” é uma dessas. Tão martelada quanto desprezada.  Conhecer-se não é saber o que se gosta, mas perceber o que se teme, sobretudo, aquilo que se teme saber. É rastrear o padrão dos próprios fracassos, desenterrar o motivo oculto no instante exato em que ele se disfarça de escolha racional. Quem se conhece de fato sente um tipo de vergonha que o mundo não ensina a reconhecer: a vergonha não da exposição, mas da lucidez. O homem, quando enfim se enxerga, descobre o que preferia jamais ter visto: o mal não está “lá fora”, nas sombras que projetamos nos outros. O mal mora onde há vontade. A sua. A minha. É a possibilidade sempre acessível de trair, mentir, corromper, negar a verdade, e fingir que tudo isso é normal porque “todo mundo faz”. O processo do autoconhecimento genuíno não é uma prática de bem-estar, mas um embate metafísico. É a remoção cirúrgica das camadas de mentira que você mesmo cul...

A Virtude dos Fortes

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  A virtude se esconde. Não por medo, mas porque o mundo parece ter desaprendido. Gestos nobres são confundidos com fraqueza. Ajoelhar-se virou virtude. Mesmo que seja diante do erro. Há uma confusão entre servir e rastejar. A nobreza cristã de servir ao próximo, como ensinada por Cristo, foi diluída em uma caricatura, a do servo sem espírito, do cordeiro que se orgulha da própria inutilidade, confundindo pureza com impotência. Jesus ajoelhou-se para lavar pés, mas levantou-se com chicotes nas mãos para purificar o templo. Ele serviu, mas nunca curvou-se aos hipócritas. O servo fiel é aquele que, mesmo com a toalha nos ombros, caminha com a cabeça erguida. A lealdade cristã não é obediência cega à vontade alheia, mas fidelidade à verdade. E a verdade, como se sabe, nem sempre é cortês. Maquiavel, com seu realismo brutal, nos adverte: os bons, quando inofensivos, tornam-se irrelevantes. A virtude, sem força, vira ornamento, e ornamentos são facilmente descartáveis. O mundo, esse cam...

1964: A Verdade que o Cinema Censura

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  Parece que, no Brasil, quanto mais distorcida a história, maior a chance de prêmio. A nova fórmula do sucesso artístico é simples: escolha um episódio, de preferência ligado ao Regime Militar, recorte os fatos com a delicadeza de uma motosserra, pinte guerrilheiros como mártires incompreendidos e transforme a luta armada em poesia. Pronto, está feito o novo candidato à estatueta dourada. A indústria cultural descobriu que a história pode ser uma mina de ouro, desde que seja contada pelo ponto de vista “certo”. E o público, anestesiado por décadas de doutrinação ideológica, aplaude de pé enquanto consome propaganda. É curioso como a história se torna refém da ignorância e da má-fé. Se há um consenso entre os que se prestam ao ofício de falsificá-la, é que a mentira bem contada pode transformar um levante comunista em resistência democrática e uma reação legítima em golpe de Estado. Desde os anos 1990, e com mais intensidade nas últimas duas décadas, o cinema nacional e as novelas ...

O Homem que Fugiu da Liberdade

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  A liberdade é um fardo insuportável para o espírito que se afastou da verdade. E não é por acaso que tantos a rejeitam, não por ignorância, mas por covardia. Há no ser humano uma tendência profunda, quase instintiva, de abdicar da liberdade em troca da segurança ilusória. É mais fácil aderir ao sistema, do que sustentar o peso existencial de uma alma emancipada. O covarde não quer ser livre. A liberdade, quando descolada da verdade, transforma-se num suplício. Essa caricatura moderna de liberdade, concebida como ausência de restrições, é a fraude fundadora do liberalismo vulgar, vendido para mentes entorpecidas. A liberdade, em sua forma real, não é um espaço vazio onde o desejo reina soberano; é um campo de batalha onde a vontade se submete ao verdadeiro. Ser livre é determinar-se segundo a realidade, não segundo as convulsões de um afeto mal digerido. A maior mentira do nosso tempo é o mandamento sentimental de que o homem se realiza ao obedecer seus impulsos. Essa ideia, que p...

A Covardia de Quem Nunca Pecou

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  A mais disseminada patologia espiritual não é a dúvida, como imaginavam os existencialistas de segunda mão, mas a crença, quase litúrgica, de que a vida humana pode ser controlada, planejada, e convertida em produto. Tal crença, sob a aparência de racionalidade técnica, é mais do que um equívoco: é um atentado metafísico contra a condição humana. O homem que almeja controlar tudo não busca a ordem, mas a negação do real. Ele não é um sábio extraviado, é um louco que obteve diploma. Reduzir a existência ao desempenho é a operação mágica do nosso tempo. E como toda magia, exige uma dose cavalar de negação da realidade. O culto ao ego. Quem adere a isso não vive, performa. E na tentativa de dar sentido à própria vida por métricas, acaba tornando-se escravo de uma liturgia sem transcendência. Uma missa negra celebrada diante do espelho. Esse homem, que não ousa mais se confrontar com o abismo, enfeita o vazio com frases de autoajuda, com vídeos de influencers espirituais e com mantra...