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O Silêncio da Vítima - Controle da Consciência

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  A história da humanidade, quando depurada de seus enfeites ideológicos e das narrativas adocicadas para consumo escolar, revela-se como uma sucessão de guerras travadas menos com espadas do que com palavras. A ilusão de que ideias triunfam por sua justeza é uma mentira. Nenhuma ideia vence por si. Ela precisa ser encarnada em linguagem, dramatizada em signos, traduzida em um teatro verbal que transforme o logos em força operativa. O mundo não é movido por conceitos, mas por discursos, e quem domina o discurso, não molda a verdade, mas a percepção do que parece ser real. A linguagem, ao contrário do que supõem os adoradores da semântica formal, não é uma sucessão de etiquetas neutras coladas sobre objetos previamente definidos. Cada palavra carrega em si uma sedimentação histórica de usos, abusos, distorções, intenções políticas e mitologias herdadas. Aquele que ignora isso não compreende nem mesmo sua própria fala. E aquele que compreende, manipula. O controle da linguagem antece...

A Virtude dos Fortes

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  A virtude se esconde. Não por medo, mas porque o mundo parece ter desaprendido. Gestos nobres são confundidos com fraqueza. Ajoelhar-se virou virtude. Mesmo que seja diante do erro. Há uma confusão entre servir e rastejar. A nobreza cristã de servir ao próximo, como ensinada por Cristo, foi diluída em uma caricatura, a do servo sem espírito, do cordeiro que se orgulha da própria inutilidade, confundindo pureza com impotência. Jesus ajoelhou-se para lavar pés, mas levantou-se com chicotes nas mãos para purificar o templo. Ele serviu, mas nunca curvou-se aos hipócritas. O servo fiel é aquele que, mesmo com a toalha nos ombros, caminha com a cabeça erguida. A lealdade cristã não é obediência cega à vontade alheia, mas fidelidade à verdade. E a verdade, como se sabe, nem sempre é cortês. Maquiavel, com seu realismo brutal, nos adverte: os bons, quando inofensivos, tornam-se irrelevantes. A virtude, sem força, vira ornamento, e ornamentos são facilmente descartáveis. O mundo, esse cam...

1964: A Verdade que o Cinema Censura

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  Parece que, no Brasil, quanto mais distorcida a história, maior a chance de prêmio. A nova fórmula do sucesso artístico é simples: escolha um episódio, de preferência ligado ao Regime Militar, recorte os fatos com a delicadeza de uma motosserra, pinte guerrilheiros como mártires incompreendidos e transforme a luta armada em poesia. Pronto, está feito o novo candidato à estatueta dourada. A indústria cultural descobriu que a história pode ser uma mina de ouro, desde que seja contada pelo ponto de vista “certo”. E o público, anestesiado por décadas de doutrinação ideológica, aplaude de pé enquanto consome propaganda. É curioso como a história se torna refém da ignorância e da má-fé. Se há um consenso entre os que se prestam ao ofício de falsificá-la, é que a mentira bem contada pode transformar um levante comunista em resistência democrática e uma reação legítima em golpe de Estado. Desde os anos 1990, e com mais intensidade nas últimas duas décadas, o cinema nacional e as novelas ...

O Homem que Fugiu da Liberdade

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  A liberdade é um fardo insuportável para o espírito que se afastou da verdade. E não é por acaso que tantos a rejeitam, não por ignorância, mas por covardia. Há no ser humano uma tendência profunda, quase instintiva, de abdicar da liberdade em troca da segurança ilusória. É mais fácil aderir ao sistema, do que sustentar o peso existencial de uma alma emancipada. O covarde não quer ser livre. A liberdade, quando descolada da verdade, transforma-se num suplício. Essa caricatura moderna de liberdade, concebida como ausência de restrições, é a fraude fundadora do liberalismo vulgar, vendido para mentes entorpecidas. A liberdade, em sua forma real, não é um espaço vazio onde o desejo reina soberano; é um campo de batalha onde a vontade se submete ao verdadeiro. Ser livre é determinar-se segundo a realidade, não segundo as convulsões de um afeto mal digerido. A maior mentira do nosso tempo é o mandamento sentimental de que o homem se realiza ao obedecer seus impulsos. Essa ideia, que p...

A Covardia de Quem Nunca Pecou

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  A mais disseminada patologia espiritual não é a dúvida, como imaginavam os existencialistas de segunda mão, mas a crença, quase litúrgica, de que a vida humana pode ser controlada, planejada, e convertida em produto. Tal crença, sob a aparência de racionalidade técnica, é mais do que um equívoco: é um atentado metafísico contra a condição humana. O homem que almeja controlar tudo não busca a ordem, mas a negação do real. Ele não é um sábio extraviado, é um louco que obteve diploma. Reduzir a existência ao desempenho é a operação mágica do nosso tempo. E como toda magia, exige uma dose cavalar de negação da realidade. O culto ao ego. Quem adere a isso não vive, performa. E na tentativa de dar sentido à própria vida por métricas, acaba tornando-se escravo de uma liturgia sem transcendência. Uma missa negra celebrada diante do espelho. Esse homem, que não ousa mais se confrontar com o abismo, enfeita o vazio com frases de autoajuda, com vídeos de influencers espirituais e com mantra...

Silêncio, o Estado Está Falando - A Lógica do Terror

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  Nenhuma ideologia genocida jamais se apresentou como tal. Nenhuma chegou à história com os punhos ensanguentados, elas sempre vieram de mãos estendidas, prometendo redenção. Se o Inferno tivesse um departamento de marketing, as ideologias modernas seriam seu portfólio premiado. Disfarçadas de compaixão, pavimentaram as avenidas da história com cadáveres, tudo em nome do “bem comum”. O comunismo é o arquétipo desse engodo. Nasceu como um grito contra a miséria e a exploração, e terminou como a maior máquina de moer vidas humanas já construída pelo homem. Prometeu igualdade e entregou escassez, prometeu liberdade e ergueu muros, prometeu paz e inaugurou o terror. Seus líderes, de Lênin a Mao, de Pol Pot a Fidel, não falavam em poder absoluto, mas em justiça. E justiça, nas bocas certas, sempre pode ser manipulada para justificar o injustificável. Queimaram igrejas em nome da razão, fuzilaram intelectuais em nome da ciência, e transformaram a fome em política de Estado. Onde prometi...

Culpados Jamais - O Ópio dos Pós-Modernos

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Vivemos tempos em que a culpa se tornou um artigo de luxo, ninguém a quer, todos a terceirizam. A responsabilidade, esse fardo glorioso que distingue o homem livre do escravo, foi lançada ao lixo por uma sociedade que canonizou o vitimismo como virtude suprema. Não se trata de empatia, compaixão ou justiça. Trata-se de um projeto: o de transformar sujeitos morais em objetos ressentidos, incapazes de responder por si mesmos, sempre à espera de um salvador institucional, uma reparação coletiva, um perdão genérico vindo do Estado. Não é exagero dizer que o vitimismo se tornou o sacramento da modernidade. Ele é celebrado nas redes sociais, nos palcos da militância identitária, nos púlpitos acadêmicos e nas novelas didáticas que fingem representar a “diversidade”. Mas o que realmente promove essa cultura é o colapso da consciência pessoal. A ideia de que somos autores da própria história deu lugar à fantasia de que somos vítimas perpétuas de narrativas opressoras e contextos históricos. Não...

A Última Queda - O Homem Sem Fundamento

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  Toda civilização, queira ou não, repousa sobre um fundamento espiritual, uma referência última que confere inteligibilidade ao real, unidade à linguagem e coesão à comunidade. Negar esse fundamento não é um passo em direção à liberdade, mas um mergulho na desintegração psíquica e cultural. Quando o símbolo que sustenta uma ordem é ridicularizado, o que se instala não é a pluralidade, mas o caos disfarçado em carnaval de opiniões. A multiplicidade sem critério não é sabedoria: é ruído. O homem moderno, entronizado como medida de todas as coisas, não é capaz sequer de medir a si mesmo. Ele já não sabe o que é real. Sente, consome, comenta, mas não compreende. Pois compreender exige uma articulação interior, um eixo vertical que una percepção e sentido, sensibilidade e logos. Mas esse eixo foi serrado em nome de uma “emancipação” cuja única conquista visível foi a multiplicação das neuroses e a banalização do delírio. Um homem incapaz de reconhecer qualquer autoridade que transcenda...

Do Mérito à Métrica - A Degeneração da Justiça

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  Toda tirania começa com uma mentira, e não uma mentira qualquer, mas aquela que se enraíza no coração do homem como segunda natureza. A mentira que, sob o pretexto de justiça, gera servidão. Que, invocando liberdade, ergue cárceres. Que, sob a aparência da ordem, institucionaliza o caos. Eis o truque mais antigo da humanidade: vestir a dominação com a toga da virtude, fazer do algoz um educador, e do espoliado, um ingrato. Entre essas farsas, nenhuma se apresenta com mais pompa do que a chamada “justiça social”. Tomada a sério, ela exige que se suspenda a razão para que floresça a piedade ideológica. Seu objetivo não é premiar o mérito nem proteger o fraco, mas condecorar o ressentido. Trata-se, na melhor das hipóteses, de um conceito fraudulento que arma o burocrata com o cetro do redistribuidor benevolente. E quem lucra? Sempre os mesmos: os intermediários parasitários do poder, acadêmicos, militantes, ONGs, partidos. Enquanto isso, a justiça verdadeira, aquela que emerge do di...

Revolução - Notas para uma autópsia da esperança pervertida

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  A revolução, ao contrário do que apregoam os aprendizes da nova fé secular, não é um clamor espontâneo dos oprimidos, é uma ficção intelectual, meticulosamente arquitetada por engenheiros sociais cuja patologia profunda é a negação da realidade. Confundida com rebeldia moral, com inconformismo diante da injustiça, ela é, na verdade, um sintoma avançado de niilismo, disfarçado de virtude. Não se engane: o revolucionário típico não busca corrigir as imperfeições do mundo, mas substituí-lo por uma caricatura ideológica. A mentalidade revolucionária nasce de uma recusa, não de uma proposta: recusa da tradição, da ordem espontânea, da herança cultural, da hierarquia natural, da transcendência. Sua utopia é um mundo onde nada nos precede, onde tudo pode ser reinventado sob medida, ao gosto do demiurgo ressentido que o habita. Todo revolucionário é, no fundo, um iconoclasta litúrgico: a sua religião é o culto da demolição. Ele não ama o futuro, ele odeia o passado. Por isso, sua linguag...